Princesa? Que nada!

Então, eu nunca fui exatamente igual às garotas da minha idade. Garotas da minha idade procuram o príncipe encantado em todas as esquinas, em todas as festas, em todos os olhares. Nossa, acho isso um saco. Príncipe encantado não é aquele cara engomadinho, com o cabelo devidamente ajeitado em um topete no topo da cabeça, que só diz o que você quer ouvir, e anda por aí montado em um cavalo branco? To fora. Quem anda montado em cavalos brancos hoje em dia, hein?



A perfeição me incomoda. Não posso ver nada perfeito que já fico imaginando "Nossa, imagina esse cabelo bagunçado, com uma camisa velha, acordando com a cara amassada?''. Tão mais interessante.

Não me esqueço de uma menina que estudou comigo no ensino médio, e que sempre tirava nota 10 em todas as provas. É claro que o comentário do colégio é que a tal da menina era perfeita, sabia de tudo, não tinha defeitos. Eu não concordava, mas ficava na minha. Até que um dia encontrei com a tal garota chorando no banheiro, chorando muito mesmo. Tentei fingir que não vi, coitada, é horrível quando alguém pega a gente num momento de fragilidade. Mas para a minha surpresa, enquanto fingia que as toalhas de papel continham um segredo mais interessante que a garota chorando ao lado, ela me chamou. Me agarrou pelos braços e desabafou anos de angústia em cima de mim. Me contou que a vida dela era só estudar, estudar e estudar. Os pais não permitiam que ela tivesse amigos, namorados ou que saísse para tomar um sorvete à tarde. E é claro que isso fazia da vida dela, aparentemente tão perfeita, miserável. Sei que não vem ao caso, mas essa garota se tornou minha melhor amiga depois do estranho episódio no banheiro.

Fato é que não existe a dita perfeição que procuramos desesperadamente alcançar. Se você for boa em algo, provavelmente suas chances de falhar em alguma outra coisa serão altas. Eu por exemplo, sei escrever, ou pelo menos acho que sei. Em compensação, meus vizinhos sofrem com a cantoria diária na hora do meu banho, eu não sei desenhar nem boneco palito, e programa de computador só se for o Paint (tá, nem no Paint eu sei mexer). 

Aquelas mulheres lindas que você vê todos os dias na televisão? Relaxa, elas também possuem defeitos, problemas e, tenho certeza, sempre acham que não estão bonitas o suficiente. 

É só abrir os olhos e enxergar o que estava ali o tempo todo e você não foi capaz – ou não quis – perceber. A Branca de Neve não acordava com o cabelo bagunçado, o seu príncipe não se atrasou para beijá-la e nenhum daqueles – sete – anões era seu amigo falso. Me diz, em que lugar do mundo uma pessoa tem sete melhores amigos verdadeiros? Só nos contos de fada mesmo. 

Imagina só encontro um desses príncipes? Ele vai gostar da mesma banda do que eu, dizer tudo aquilo que quero ouvir, ser paciente, nunca levantar a voz e ser sempre, isso mesmo, perfeito. Quem disse que gosto disso? Odeio dividir minhas bandas, gosto de pessoas que me provocam, e de vez em quando é bom ter uma briguinha pra apimentar o relacionamento. 

Não adianta passar a vida procurando por alguém que seja “aquilo que deve ser”. O ideal é que você nem procure nada, porque um dia, quando você estiver sem maquiagem e com o cabelo preso num rabo de cavalo, esse alguém vai aparecer. Ele não vai ser muito bonito, e nem vir montado num cavalo branco. Mas vai ser tudo aquilo que você precisa e admira numa pessoa. Tenho certeza. 

É incrível quando aprendemos a admirar os defeitos de quem está ao nosso lado. Branca de Neve, coitada, nunca teve essa chance. A única pessoa imperfeita que apareceu em sua história – e talvez a mais verossímil – foi a Madastra. Madastra essa que era invejosa, arrogante e vaidosa. Assim como todas nós já fomos ou ainda somos. Ta vendo só?

Você não é Branca de Neve para ficar esperando príncipe encantado, não. Você é a Madrasta da vida real, só é preciso achar alguém que aceite todos os seus defeitos. Princesa? Que nada! Aqui é mulher de carne, osso, e imperfeição.

Texto retirado do blog http://isabelafreitas.com.br/

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